União-vitoriense faz sucesso mostrando rotina de limpeza de casas nos EUA
Para alguns, faxina pode ser uma tarefa enfadonha. Outras pessoas podem considerar esse momento como uma espécie de terapia. Já a união-vitoriense Franciele Almeida viu no afazer uma oportunidade de mudar de vida – e de país. A limpeza de casa é um gosto que a jovem traz desde a infância. Em 2019, quando decidiu embarcar no sonho do marido André, que desejava morar fora do país, o casal aterrissou em Londres, capital da Inglaterra. Por lá, Franciele uniu o útil ao agradável e começou a trabalhar com limpeza da casa de terceiros. Após um período na Europa, retornaram para o Brasil, mas um ano depois arrumaram novamente as malas, dessa vez com destino aos Estados Unidos.
Na terra do Tio Sam, Franciele deu continuidade a carreira iniciada na Inglaterra. Foi então que começou a utilizar o Instagram para compartilhar com os seguidores a realidade nos Estados Unidos, e as diferenças das casas de lá com relação às daqui. E não demorou muito para que a rotina também virasse conteúdo. “ei a mostrar meu trabalho de limpeza, compartilhar dicas de como limpar e indicar produtos para quem mora nos EUA”, relata Franciele, que atualmente possui 337 mil seguidores. “Graças ao Instagram, hoje tenho minha própria empresa e uma base sólida de clientes fixos”, completa.
Franciele atende casas de férias listadas no Airbnb. Residindo em Orlando, cidade que abriga parques de diversão famosos como Walt Disney World, a rotatividade de hóspedes nas casas é alta, exigindo que a limpeza de alguns imóveis seja realizada mais de uma vez por semana. Porém, mesmo com tanta demanda, a jovem comenta que atualmente tem uma rotina mais tranquila, sem ter a necessidade de trabalhar todos os dias como quando começou a atuar no ramo. “Há cinco anos, trabalhávamos de segunda a segunda, sem folga. Eu agarrava todas as oportunidades de trabalho para limpar casas e aprender cada vez mais, com o objetivo de montar nossa própria empresa e conquistar nossos próprios clientes”.
A carga horária de trabalho é variável, e depende da condição dos imóveis. Em média, o serviço em cada casa atendida dura cerca de 3h a 4h, mas Franciele comenta que no início da carreira, já chegou a ar mais de 12h em um mesmo cliente. “Às vezes, alugam uma casa de cinco quartos e usam apenas um, e nesse caso é bem rápido. Mesmo assim, eu confiro todas as camas e banheiros, e geralmente já levo roupas de cama e toalhas extras, fazendo a troca para não perder tempo lavando [roupa] nas casas”.
Não é como no Brasil
Para os brasileiros, a faxina envolve muita água e sabão. Já nos Estados Unidos, devido a estrutura dos imóveis, que não costumam ter ralos para escoar em nenhum lugar além do box do banheiro, Franciele realiza o que chama de lavagem a seco. Mas, segundo a profissional, essa diferença de costumes não impede que a limpeza seja eficaz, devido à maior disponibilidade de produtos de alta qualidade.
Outra discrepância entre os dois países, de acordo com Franciele, é que nos Estados Unidos, quando se contrata alguém para realizar a limpeza de uma casa, o profissional realiza apenas esse serviço. Caso o contratante deseje também organização, limpeza de geladeira, forno, lavagem e agem de roupas são cobrados à parte. Além disso, há diferenças no tipo de limpeza oferecido. Uma limpeza básica não inclui arrastar móveis, limpar rodapés, janelas ou ventiladores de teto. Para isso, existe a deep cleaning, uma limpeza mais detalhada, onde movemos os móveis, limpamos janelas por dentro, rodapés, ventiladores de teto e armários por dentro. Como exige mais trabalho, o valor dessa limpeza é bem mais alto”, destaca.
- Algumas das casas em que Franciele trabalha. Foto: arquivo pessoal
- Algumas das casas em que Franciele trabalha. Foto: arquivo pessoal
Para Franciele, a maior diferença entre os países, contudo, não está na forma com que se realiza a limpeza, mas sim como ela é tratada. Por lá, ela vê maior valorização nesse tipo de serviço. “No Brasil, muita gente ainda vê a limpeza como algo vergonhoso e trata quem trabalha nessa área como inferior. Mas aqui é totalmente diferente. O serviço é muito valorizado, principalmente quando se trabalha diretamente com americanos. Você define o valor do seu trabalho, e eles simplesmente pagam, sem pedir desconto. Além disso, costumam mandar mensagens agradecendo, dão boas gorjetas e ainda indicam seu trabalho para outras pessoas”.
Itens abandonados
Uma das coisas que mais chama a atenção dos seguidores de Franciele é a quantidade de alimentos e bebidas deixadas para trás pelos hóspedes das casas que a jovem atende. “Muitas pessoas que vêm para a Disney ou outros parques e acabam se empolgando no mercado, compram demais e, como voltam de avião, não conseguem levar tudo na mala, então deixam para trás”.
Franciele relata que fica com algumas coisas para si, como bebidas, papel higiênico, papel toalha e produtos de limpeza. Mas a quantidade de itens deixados para trás é tanta que, caso decidisse levar tudo para casa, não teria espaço para guardar. Por essa razão, opta por fazer a doação em caso de alimentos e bebidas lacradas. Quanto a embalagens abertas, o destino é o descarte, em razão da segurança sanitária.
Até hoje, o item mais inusitado encontrado por Franciele foi uma sandália do tipo rasteirinha da marca Chanel, avaliada em 800 dólares. O calçado foi entregue na casa após a hóspede ter saído dos Estado Unidos. “Entramos em contato com ela, e nos informou que já estava de volta ao Brasil e que havia conseguido o reembolso da compra”.
História para contar
Além da oportunidade de ter seu próprio negócio, a limpeza de casa também proporciona à Franciele uma série de histórias para contar. Em uma situação, o estado do imóvel que iria limpar era tão extremo que a deixou de boca aberta. “Eles tinham quebrado várias coisas e feito uma festa estilo American Pie. Havia drogas pela casa, preservativos usados e muitos itens danificados”.
Em outra oportunidade, a bagunça encontrada foi caso de polícia. “Encontramos munição por toda a casa, tiros nas paredes, a televisão arrancada da parede e levada, o videogame da casa foi roubado, portas de quartos quebradas, roupas de cama danificadas. Foi um verdadeiro show de horrores. Tivemos que acionar a polícia de imediato”.
Armas de fogo também fazem parte da lista de itens encontrados nas casas. “Em outra limpeza, encontramos uma arma na casa, e ela estava carregada. Avisamos imediatamente, e logo depois o hóspede voltou para pegar a arma como se fosse um brinquedo esquecido, como se fosse algo totalmente normal para ele. Foi um episódio bem bizarro”, completa Franciele.
Morando no exterior
No momento, com as políticas de deportação adotadas pelo presidente Donald Trump, a situação para imigrantes ficou mais delicada, afirma Franciele. Porém, ela ressalta que o fato não é tão assustador para imigrantes com documentação regular. “Estão deportando muitas pessoas, sim, mas são principalmente pessoas criminosas, pessoas que entraram de forma ilegal pela fronteira do México, ou indivíduos procurados com agens em aberto. Não está deportando pessoas que entraram de forma legal, como muitos estão pensando”.
Para aqueles que desejam seguir os os de Franciele e mudar de país, a união-vitoriense indica que é importante analisar e pesquisar muito sobre o local em que se pretende morar. “É importante analisar se ela quer viver em um estado que faz muito frio e neva, ou se prefere morar na Flórida, onde o clima é mais quente e semelhante ao do Brasil. Também precisa ter uma boa reserva financeira para começar do zero. Aqui na Flórida, o transporte público não é tão eficiente, então será necessário comprar um carro logo de cara. Se for alugar uma casa, será preciso pagar o depósito de segurança, entre outras coisas. O mais importante é procurar um advogado de imigração de confiança e entender quais tipos de visto ela pode aplicar para morar aqui de forma legal”.
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