União-vitoriense integra quadro de árbitros da CBF

Quando o árbitro é o centro das atenções, geralmente o motivo não é dos mais agradáveis. Porém, no caso de Andrei da Silva, os holofotes são merecidos. União-vitoriense, o jovem é um dos 16 árbitros da Federação Paranaense de Futebol (FPF) a compor o quadro da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

União-vitoriense integra quadro de árbitros da CBF

Foto: Rafael Diego.

Inicialmente, o sonho de Andrei era participar de partidas como jogador. “95% da arbitragem, todo mundo tentou, de uma forma ou outra, participar do contexto futebol, essa paixão que todo mundo carrega”, comenta. Na adolescência, chegou a integrar categorias de base de times de outras cidades, porém, não conseguiu dar continuidade à carreira. Mas o desejo de entrar em campo não morreu, apenas foi redirecionado.

Por meio de contatos no Vale do Iguaçu, Andrei começou a receber orientação e convites para apitar campeonatos varzeanos. “Acabei entrando no meio da arbitragem, buscando conhecimento, cursos, e graças a Deus estou, hoje, caminhando para o crescimento pessoal”. Em sua primeira partida, atuou como bandeirinha na categoria veterano.
Com as oportunidades nos campeonatos da cidade, Andrei tomou gosto pela profissão e decidiu se aprimorar.

Ingressou em um curso de formação de árbitros em Curitiba e, semanalmente, viajava até a capital para participar das aulas. A formatura aconteceu em 2016, após cerca de um ano de curso. Em 2017, veio a primeira oportunidade de atuar em uma partida profissional. Desde então, nunca mais parou. “A mesma paixão que eu tinha como jogador eu consegui ter como árbitro”, declara.


Evolução

Para chegar até jogos de grande expressão, o árbitro precisa trilhar um longo caminho. No caso de Andrei, as primeiras oportunidades em jogos profissionais foram na terceira divisão do paranaense, seguindo para jogos da segundona, até chegar à elite do futebol estadual.

União-vitoriense integra quadro de árbitros da CBF

Foto: Rafael Diego

No ano ado, teve mais uma conquista na carreira: a chance de apitar uma final. Andrei foi o árbitro do jogo de ida entre Batel e Toledo na Terceirona. A oportunidade foi recebida com alegria, mas também com uma pitada de incredulidade. O jovem relata que precisou realizar um trabalho mental. “Eu mereço estar neste jogo”, disse para si mesmo.

Ainda em 2024, Andrei teve, também, sua primeira oportunidade em jogos de nível nacional, atuando em partidas das séries C e D do Campeonato Brasileiro. Mas o avanço nas categorias em que é escalado para apitar não o afastam dos campeonatos de menor expressão, como os amadores. Segundo ele, é de extrema importância para um árbitro estar sempre em contato com o futebol, para treinar e não perder o ritmo. “Todo jogo é uma oportunidade”, comenta.

O preparo físico, mental e técnico para atuar em jogos de futebol deve ser constante, seja na prática, assistindo partidas pela TV, ou estudando as regras do esporte. “Nós falamos que ela [a regra] é uma bíblia. Ela tem que estar na cabeceira da cama e todos os dias você tem que estar lendo, ativando a mente”.

Agora, a expectativa é chegar em níveis ainda mais altos do futebol nacional, como as séries B e, posteriormente A do Campeonato Brasileiro. Para isso, precisa realizar cursos de homologação de VAR, uma exigência da CBF, coisa que Andrei pretende tirar de sua lista de afazeres assim que a formação for novamente disponibilizada. “Todos queremos chegar, e [quando chegamos] precisamos nos manter”, avalia.


Árbitro CBF

Andrei atribui sua chegada ao nível de arbitragem CBF ao seu esforço e também a um pouco de sorte, visto que cada estado possui um limite de participantes no quadro nacional. No momento em que uma vaga foi aberta, o jovem teve a felicidade de o presidente da comissão de arbitragem da FPR, Anderson Carlos Gonçalves, reconhecer o trabalho feito por Andrei. “Nada melhor do que quando teu chefe consegue olhar para você e perceber que você merece”.

 

Em campo, Andrei tem sempre em mente que está representando seus familiares, seu estado, e sua cidade natal, lembrando sempre das coisas que aprendeu com os amigos de União da Vitória. “Hoje, quando faço um jogo profissional, sempre me lembro do meu ado, de pessoas que me ensinaram”.


Conduta em campo

Segundo Andrei, assim como jogadores de futebol, árbitros também têm seu próprio perfil. Por essa razão, relata que gosta de assistir partidas apitadas por outros juízes, na intenção de aprender com seus pares. O jovem comenta uma situação em que, em uma partida da Copa Libertadores, o árbitro, ao perceber um clima tenso entre os jogadores, chamou os dois capitães para conversar na intenção de que as equipes mudassem de postura para que o jogo tivesse boa continuidade. Dias depois, Andrei utilizou a mesma tática. “Foi algo que eu consegui extrair analisando o jogo do árbitro, e consegui aplicar no jogo”.

Para o jovem, cabe ao profissional que deseja seguir na área, honrar a taxa que recebem para participar das disputas, e entender de futebol, estando sempre a par das regras e cuidando do preparo físico, sendo profissionais dentro e fora de campo. “O que nós mais queremos é sair tranquilo, com a cabeça erguida e sabendo que fizemos um trabalho digno de acordo com o espetáculo que os jogadores forneceram”, completa.


Apoio da família

O crescimento da carreira também depende de outro fator fundamental: o apoio da família, algo com que Andrei sempre pode contar. Ao ar por momentos ruins, recebe todo o e daqueles que estão ao seu lado.
Um dos maiores apoiadores de Andrei era o pai, que faleceu no ano ado, menos de dois dias antes do união-vitoriense entrar em campo. Até mesmo nesse momento, o pai teve papel importante no crescimento do filho como árbitro.

Andrei havia sido escalado na terça-feira à tarde para participar de um jogo no domingo. No mesmo dia, à noite, o pai foi internado. Sem saber qual seria o desfecho da internação, o jovem optou por não pedir dispensa do jogo, pois tal pedido envolveria órgãos superiores, como o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).
Infelizmente, o pai de Andrei faleceu na sexta-feira. O corpo foi sepultado no sábado, e no domingo o árbitro cumpriu seu dever com a Federação. “Foi um momento difícil mas ao mesmo tempo de crescimento pessoal e profissional”, relembra.

Naquele momento, Andrei entendeu o compromisso de honrar a tarefa que lhe haviam designado. Pela dificuldade que estava ando, redobrou a necessidade de concentração na partida, se desligando completamente do mundo exterior. Quando o jogo acabou, lembrou do pai no mesmo instante, pois sempre recebia uma mensagem de carinho após completar sua missão em campo. “Ele era meu fã número um. O único que não me xingava”, comenta.

O árbitro também relata um desejo que o pai sempre lhe externava. “Um dia você vai apitar um jogo do meu time”, dizia. Sonho esse que agora Andrei carrega como incentivo para seguir galgando seu caminho no mundo da arbitragem.

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