Da rodoviária ao Fantástico: a jornada de uniões-vitorienses para ver Lady Gaga

“Eu viajei de União da Vitória, no Paraná. 20h de viagem”. Com essa frase curta, declarada em pouco mais de quatro segundos, o jovem Kaique Kaue Alves, de 21 anos, confirmou para todo o país a presença de moradores do Vale do Iguaçu no show da cantora Lady Gaga em Copacabana, no Rio de Janeiro. A apresentação, gratuita, fez parte do evento Todo Mundo no Rio, que neste ano reuniu público de 2,1 milhões de pessoas, segundo a Empresa de Turismo do Município do Rio de Janeiro S.A (Riotur). O evento, de proporções gigantescas, recebeu ampla cobertura da mídia, virando tema de reportagem no Fantástico, da rede Globo, tendo Kaique como um dos personagens da matéria.

Kaique. Foto: arquivo pessoal

A participação do união-vitoriense no jornalístico foi um recorte de um trecho da transmissão ao vivo antes do show, realizado no sábado, 03. Na oportunidade, a jornalista Fernanda Graell conversa com o público antes de Lady Gaga subir aos palcos. Nesse momento, Kaique encontrou a chance de mostrar para o Brasil de onde tinha vindo. Quando viu a equipe de reportagem ando próximo à grade onde estava, fez de tudo para ser notado. “Eu [pensei]: não posso deixar ar batido esse momento”, comenta. A estratégia deu certo, e logo vários familiares e amigos reconheceram o jovem. “Primeiro os meus sobrinhos viram que eu ei ao vivo. No outro dia, de madrugada, eu estava voltando para casa e muita gente me mandou mensagem e falou: amigo, você apareceu no Fantástico”.

A aparição relâmpago em rede nacional, contudo, foi apenas um extra em uma viagem que representava a realização de um sonho. Fã da artista desde criança, Kaique só confirmou a presença no show uma semana antes da apresentação. O medo de ir sozinho ao Rio de Janeiro era um impeditivo, tanto para o jovem quanto para seus pais. Mas o desejo de ver Lady Gaga em terra brasileira, após 13 anos sem a cantora vir ao país, falou mais alto. “Era uma oportunidade em um milhão”, diz Kaique.

A viagem do jovem começou às 19h de quinta-feira, 1º de maio, quando pegou um ônibus na rodoviária de União da Vitória rumo a São Paulo. Após quase 12 horas, chegou na capital paulista por volta das 7h da manhã de sexta-feira, e precisou esperar até às 11h para entrar em um novo ônibus, desta vez para o Rio de Janeiro. A chegada na Cidade Maravilhosa aconteceu às 18h. Kaique chegou na praia de Copacabana perto das 19h. Nesse momento já havia uma multidão esperando a cantora aparecer nas janelas do hotel Copacabana Palace. O união-vitoriense se beneficiou desse fato para pegar um bom lugar na platéia. “No que eu cheguei, eu encostei naquela grade e ninguém me tirou de lá”

No local, o jovem acabou fazendo amizade com outros fãs de Lady Gaga, e aram a cuidar uns dos outros. Kaique ou o restante da noite de sexta-feira e praticamente todo o sábado aguardando o início do show, sem sair do local, seja para se alimentar ou utilizar o banheiro. “Eu estava com tanta ansiedade por causa do show que nem me deu vontade de ir ao banheiro. Eu fiquei 30 horas naquela grade para conseguir pegar o melhor lugar”.

Apesar das dificuldades enfrentadas para acompanhar o show de perto, Kaique não se arrepende e se diz realizado. “Quando ela cantou Born This Way, nessa hora eu desabei. Porque ela comentou que o pessoal é muito cruel com a gente que é LGBT. Ela fala: eu tenho tanto orgulho de vocês, eu defendo vocês e nunca deixem de acreditar em vocês mesmos apenas por serem quem vocês são. Desde a primeira música ela sempre defende a gente. E para mim ela é tudo, porque é tão difícil a gente ser apenas a gente sem ser julgado”.


Contemplação da arte

Mas nem só de Little Monsters, como são conhecidos os fãs de Lady Gaga, era composta a plateia do show. O agente universitário Gustavo Henrique Deniz Pinto, de 29 anos, saiu de União da Vitória para acompanhar dois amigos no show. Para ele, a participação no evento foi motivada pela contemplação da arte em si. “Apesar de não escutar com frequência, não tem como você não ficar irado pelo que a guria apresenta. É monumental. É algo que vai ficar na minha memória sei lá até quando. Foi incrível. E eu via o meu amigo e as outras pessoas que eram fãs enlouquecidos dela e você olhava para eles e via o brilho nos olhos deles. Acho que a minha realização era contemplar tudo aquilo que estava acontecendo. O show em si, a reação das pessoas e o que elas fizeram para estar ali”.

Gustavo. Foto: arquivo pessoal

Os preparativos de Gustavo para a viagem começaram logo após o anúncio dos shows. A prioridade foi garantir o conforto com a reserva de um hotel próximo à praia. O servidor público e os amigos chegaram no local da apresentação no início da tarde de sábado. Conseguiram um local próximo a grade lateral e compraram banquinhos de plástico que serviram como uma espécie de degrau para que pudessem ter uma melhor visão do palco.

“A viagem em si foi muito tranquila. Mas o show foi uma loucura”, comenta Gustavo. “Imagina mais de 2 milhões de pessoas no lugar. Você olhava e você não conseguia ver o fim, não tinha fim, e você achava que não cabia mais gente mas cabia mais”.

Em comum com Kaique, Gustavo também fez amizades enquanto esperava o show. Para ele, além da apresentação em si, ter a possibilidade de conhecer novas pessoas também foi um grande atrativo. “Eu não sei se eu faria tudo de novo, mas eu acho que todo mundo precisa de uma experiência de um rolê desses. Realmente cansa, mas vale a pena. É um rolê massa que fica marcado. As pessoas que tu conhece, que tu conversa. Tinha uns moradores do Rio ali do nosso lado, conversando com a gente, contando como era a vida deles. Eu acho que essas trocas culturais são muito massa”.

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